Ontem foi o Dia Mundial da Terceira Idade. Ainda não chegámos aí, mas queremos chegar lá, em primeiro lugar e, já agora, fortes, saudáveis, activas e bo-ni-tas.
Mas, até lá, vamos sofrendo com as dores de crescimento. Ontem confessei nesta foto do Instagram mais uma dessas dores, o reflexo que nos devolve uma qualquer inocente selfie:
Na verdade não é uma inocente selfie, é o reflexo que nos devolve o espelho, que nos diz na cara o tempo que nos vai passando pelo rosto, pelo corpo, pelo vida.
O que é que vemos quando nos olhamos ao espelho (nem que seja para tirar uma selfie)? Amamos o que vemos? Ou tentamos constantemente igualar as belas imagens dos instagrams da vida, todas aparentemente tão mais jovens e perfeitas?
Eu estudo imenso e falo aqui sobre cuidados de rosto e corpo, beleza e estilo, sem idade, sem dramas. No entanto, tirar uma selfie é quase sempre uma facada no meu ego pois, tal como acontece com muitas outras pessoas, pois eu sou a minha maior crítica e custa-me ver o meu rosto diferente do que era há uns anos atrás.
Então, eu lembro-me que adoro fotografia, o seu poder, a sua verdade e magia, adoro tirar fotos, e até sou fã de aplicativos que filtram o rosto, para recuperar a pele e traços lisos que o espelho me dá, que eu sinto na alma, mas que o telemóvel me nega – mas apenas na medida certa, a mínima; é uma pena ver as pessoas que as usam excessivamente não perceberem o estado deformado e esfumado em que deixam o seu rosto e fotos. Penso sempre que é assim que está a sua auto-estima, a sua percepção de beleza.
Se pensarmos bem nisto, qual é o objetivo de parecermos “alisadas” quando temos mais de 40, 50 anos ou mais? Para quê? Se alguém nos diz que parecemos “muito mais novas”, do que somos, isso é realmente um elogio ou será uma discriminação em função da idade? É como se parecermos bem para a nossa idade real não fosse suficientemente bom. É claro que é perfeitamente legítimo fazermos por ter o melhor aspecto possível, ser a nossa melhor “versão” – é todo o objectivo deste bolg! -, mas acho que isso se tornará num problema se estivermos na realidade a tentar parecer mais novas do que a nossa idade real.
O objetivo não deve ser sermos jovens, mas sim saudáveis. A nossa sociedade glorifica o poder e a beleza que estão intimamente associados aos anos mais jovens, a sermos mais novas. Admirar uma aparência jovem é bem diferente de torná-la a bitola do que é ser-se atraente. Há uma tendência perniciosa de abominar o inútil infértil, o declínio da velhice, a inutilidade do que já não (re)produz. Mas, quão irreal e falso é este pensamento? Agora que estamos a crescer enquanto geração, que cada vez somos mais pessoas mais velhas, devemos continuar a glorificar e procurar uma aparência mais jovem, fazendo procedimentos estéticos, usando filtros para enganar as pessoas com os nossos rostos jovens e falsos? Ou dar-nos antes mais poder, aos sermos nós prórpias, como estamos e somos?
Uma das razões pelas quais comecei este projeto é porque quero libertar as mulheres da ideia de eterna juventude e perfeição. Quero mostrar-lhes ideias e representações da sua idade, com que todas nós nos identifiquemos.
Os media tentam constantemente mostrar-nos uma versão mais suavizada dos quarenta ou uma versão mais e mais nova dos cinquenta. Não basta ter apenas quarenta, cinquenta ou sessenta anos, tal como eles são? Cada vez mais, a resposta é “sim”, tanto para mulheres como para homens.
O apelo à diversidade torna-se cada vez mais forte, o que é uma mudança fantástica. O meu objetivo e trabalho interior – esta é também a minha luta e esforço, eu também estou a aprender – nunca é trazer aqui imagens, ideias e mulheres que pareçam mais jovens, quero antes que dêem uma ideia da melhor versão possível, mas atingível, real. Às quais possamos aspirar com realismo.
Então, voltando à selfie, qual a necessidade da selfie perfeita? Na minha opinião, não há muito de errado nisso, procurar a melhor versão de nós mesmas numa selfie, desde que ela permaneça realista e uma versão bonita da nossa realidade. Caso contrário, estaremos a defraudar-nos repetidamente, usando filtros (exagerados) para suavizar a pele e cobrir rugas ou alterar as nossas características faciais.
E sim, também sou vaidosa, quero parecer bonita e saudável para a minha idade, tenho 40 anos e estou feliz com isso. Como de forma saudável, bebo muita água, tento dormir 7 horas por noite (deviam ser 8…), faço o meu yoga quase todos os dias, tomo suplementos, uso produtos cosméticos para peles maduras, proteção solar e vou experimentando tratamentos faciais e de corpo regularmente. Além disso, não nego o filtro, porque, lá está, ele me devolve o que eu vejo ao espelho, não me altera, não me muda. (Também vos acontece isto? Penso que sim, até encontrei um meme sobre isto, não posso ser a única a senti-lo!).
Hoje em dia, a vitalidade é muito mais importante do que a idade; uma aparência saudável e forte, em vez de uma pele jovem, perfeitamente lisa, sem rugas. Ser bonita em qualquer idade.
Eu sinceramente acho que a visão das mulheres sobre o envelhecimento está a mudar lentamente e há de chegar o dia em que ver alguém com rugas num anúncio de moda vai ser simplesmente a representação do público alvo e não uma aberração ou jogada de marketing. Não vamos mais concentrar-nos nas rugas. Eu sei que é difícil conciliar isso (mesmo internamente, eu vivo muito esse conflito) com a facilidade com que hoje em dia se apagam as rugas. À medida que somos mais saudáveis e fortes por mais tempo, parecemos mais jovens e é cada vez mais fácil prolongar essa juventude, da roupa ao rosto. De facto, além de rotinas cosméticas certeiras, as rugas são de facto cada vez mais facilmente “apagáveis”, seja através das tais apps nas fotos digitais, seja através de injeções bem reais em meia dúzia de minutos. Se formos a ver, a ciência dá-nos soluções na mesma medida que o marketing das grandes empresas conspira contra a nossa auto-estima apenas para nos vender os seus produtos… (e isto dá pano para mangas…)
Ainda assim, vamos combinar, não são as rugas que interessam nesta vida, a aparência de uma pessoa não é a única razão para acharmos alguém atraente, isso seria incrivelmente superficial. Somos atraídos por outra pessoa pela sua confiança, conversa, bondade, sabedoria, coragem, eloquência, carácter, criatividade, entusiasmo, sentido de humor, etc. O que nos torna atraentes não é que tenhamos aos 40 ou 50 anos a mesma cara e corpo de quando tínhamos 20. O que importa em última análise é que cada uma de nós preencha a sua vida com experiências que nos tornam a pessoa que precisamos ser, e sermos absolutamente nós próprias, esta é provavelmente a coisa mais atraente que existe.