À medida que a geração dos nossos actuais 40 e 50 anos chega, lá está, aos 40 e 50 anos, não há como escapar a uma maior democratização da moda. Não há hipótese.

Assumimos as rédeas do nosso corpo, do nosso trabalho, das nossas vontades e objectivos, estamos cada vez mais representadas em todas as facetas e estratos da sociedade. Porque é que no consumo, que é onde somos mais representativas – temos mais poder de compra, somos quem faz as escolhas de consumo na família – não nos conseguíamos rever nas imagens que as marcas de moda nos impingem para consumir?

A nossa geração cresceu a admirar os superpoderes das supermodelos e actrizes e não está para vê-las substituídas sem mais por adolescentes prépuberes e amuadas. Queremos continuar a vê-las, elas estão óptimas! Garotas não nos compelem a comprar, simplesmente. Ir aos sites das Zaras e Mangos da vida, para mim, era imaginar a roupa em alguém mais baixo, com mais curvas e mais velha, não nos cabides humanos em poses estranhas e ângulos impossíveis.

Isto está a mudar, já há alguns anos e cada vez mais, até à normalização, creio eu. Temos visto cada vez mais diversidade nas imagens de moda, de campanhas e editoriais às dezenas de fotos de catálogo online. Começou com um bang, com modelos mais obesas, ou mais andróginas, ou bem mais velhas do que os padrões habituais (de 70, 80 anos).

Lauren Huttun para Ralph Lauren, aos 74 anos

E agora, cada vez mais, se vêem na moda as mulheres de “meia idade”, as de 40, 50, 60 anos, absolutamente maravilhosas. Esta é a verdadeira democratização da moda, mais que ver modelos muito mais velhas, de longos cabelos brancos, ou muito mais gordas, é ver as que têm mais carne nos ossos e celulite e estrias à vista, as que têm rugas e manchas no rosto mas são da nossa idade, cada vez mais representativas do que vai nas ruas, do padrão médio.

Campanha Mango

 

Campanha Zara

Sem dúvida que é uma jogada de marketing das marcas, que lançam a cartada do politicamente correcto ao mesmo tempo que dão graxa ao público alvo, sem deixar de usar as modelos mais giras, mais altas, mais cool, mas ainda assim, mais velhas. Sem esconder manchas, assumindo as rugas, até os brancos. E isso já vale muito. Já é bom de ver. Ver as supermodelos e as atrizes mais velhas nas campanhas é ver estas supermulheres a envelhecer, tal como nós. Lindas e maravilhosas, mas ainda assim, mais velhas, como nós. A ocupar o seu espaço, não a desaparecer.

Kate Moss foi a cara do perfume da Charlotte Tilbury
O trio da Lancome, Penelope Cruz, Julia Roberts e Kate Winslet, na campanha Love Your Age. Isabella Rosselini, antiga musa da marca, também está de volta.

A moda começou pelo padrão impossível, pela perfeita mulher inatingível, para passar ao seu extremo oposto, para marcar uma posição, e finalmente agora começa a ver-se cada vez mais um verdadeiro padrão médio, as que são de idade média, as que são de peso médio, as que representam o quotidiano, a média. Não o “normal” (o que é isso de normal?!), não o “real” (reais não somos todas?!), mas sim o mais representativo. O mais habitual. E a sorrir para a foto, imagine-se!

Campanha H&M

Eu gosto de ver um anúncio da Lancôme ou da Charlotte Tilbury com uma mulher de 50 anos. Gosto de ver as peças da Zara, da Mango, em mulheres que se nota no rosto que não são adolescentes, mesmo que lindas, em óptima forma, bem maquilhadas, bem iluminadas, bem photoshopadas. São mais velhas e nota-se, é um passo em frente. É trazer essa mulher para a linha da frente, para a normalização.

É assim nas marcas de luxo, nas marcas mainstream, na moda, na beleza. Nas marcas que nós consumimos. Há de chegar o dia em que esta diversidade vai deixar de chamar a nossa atenção, e vai simplesmente ser o normal. Eu já não vou aceitar voltar atrás, eu quero ver-me representada nas marcas que consumo e acabou-se.

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